a palavra que sempre me faltou no vocabulário, a palavra que desde sempre desconheci.
nunca soube o que foi ter amor de pai, e sentir os olhos de orgulho dele por mim. ;nunca fui uma criança que brincava contigo, e nunca me acarinhaste como em criança eu queria.
cresci revoltada, mas sem mostrar a ninguém … custa-me saber que não estás do meu lado, e que até já posso ter passado por ti e mesmo assim não te conheci. e sabes porquê ? porque eu não me lembro de ti, não sei quem és, porque nunca te importaste comigo, abandonaste-me mesmo antes de eu nascer, a tua verdadeira sorte, é que eu ainda não estava no mundo e não senti o teu abandono, o teu desprezo. tu não és nenhum ser humano, tu não és um homem, tu não vales nada, porque não sabes o que é uma vida vir parar ao mundo sem a pessoa mais importante, muitas pessoas preocupam-se comigo mas a mais importante não, nunca quiseste saber se eu estava bem, se estava morta ou viva, nem sequer sabes da minha existência, porque o teu maior desejo era aborto … sabes o que é uma vida ? uma vida, é aquilo que me querias tirar a mim ! nunca tive curiosidade em conhecer-te, saber quem és, e nem sequer sei se tenho irmãos. nem pergunto o porquê de me teres feito isto, e nem me dou ao trabalho de tentar procurar-te, porque metes-me nojo e aquilo que tu me fizeste não se faz a ninguém. nem mereces que eu ainda diga « não, eu não conheço o meu PAI ». recusaste-te a que eu tivesse a tua morada, conhecesse o teu nome, soubesse aquilo que és. sempre disse que não, não quero conhecer-te, estou bem assim e não preciso de ti para absolutamente nada. ;eu cresci … tanto em altura, como em maturidade, agora já sou uma mulher e todos os dias cais tu no meu pensamento, já me invadiste os meus sonhos fazendo-me acordar a meio da noite, e todos dizem que eu ? sou como tu, tanto psicologicamente como fisicamente. eu quero sorrir quando me dizem isso, mas não consigo porque a minha história de vida não deixa, então limito-me a baixar a cabeça, fechar os olhos e não responder, até que se mude de assunto. a minha história, dá mesmo para escrever um livro, mas não o faço, porque estou farta destas emoções provocadas por ti. ;agora, meu querido Zé Miguel, as minhas mágoas passaram, sou feliz e ponto. um dia gostava de conhecer-te para os meus sonhos não voltarem a ser teus, e para matar isto que aqui anda engasgado, um dia espero abraçar-te e poder chamar-te pai, sei que te orgulharás, mas por enquanto isto é impossível e eu ainda sou nova. cresci e sei lidar sem ti para viver. serás sempre uma pedra no meu caminho, e um grão de pedra, no meio do meu castelo de areia, para ti não existe palavras lindas. e a única coisa a agradecer-te é o facto de me teres trazido ao mundo, sem o teu prazer eu a esta hora não estava aqui, pode ser que um dia mais tarde mude de ideias, te encontre no meu destino e quem sabe se não te dou a mão, por enquanto ? eu não te conheço.
sim, é verdade, eu não conheço o meu pai, o homem que tem o seu sangue a correr nas minhas veias. um dia, hei-de pensar em ti com todo o carinho. podes ser o pior pai do mundo, porque o és sem dúvida, nem se pergunta, mas eu sou tua filha, herdeira do teu corpo.
não sei se estás morto ou vivo, porque para além de não te conhecer, não sei se ainda estás aqui na terra, não sei se ainda estás vivo. mas que fique aqui bem explícito, que mesmo não sabendo quem és, eu AMO-TE, como uma filha ama um pai, acima de tudo. «3
mesmo que me custe dizê-lo, foste tu o criador da minha pessoa,
